sexta-feira, 2 de julho de 2010

Minha Infância.

Quando eu era criança, eu era pequena.
E como eu era pequena papai e mamãe sempre deram muita atenção a minha pessoa.
Eu era a caçula da casa, meus irmão e irmãs eram mais velhos que eu.
Papai sempre foi um homem muito rígido, não admitia que sua filhas fizessem coisas que as filhas de nossos vizinhos faziam.
Não podíamos usar calça, tínhamos que ter cabelos longos, não podíamos namorar e o pior de tudo: Não podíamos falar palavrão!
E o que me deixava muito puta da vida era que lá em casa somente os homens podiam falar palavrão, meus irmãos sempre tinham um "caralho" na boca pronto para ser solto a qualquer momento.
Papai falava que mulher que falava palavrão era mulher-dama.
Dama, mulher-dama!
Essa palavra me fazia sonhar, ser uma dama devia ser uma coisa maravilhosa, essa palavra é bonita demais.
Talvez por essa proibição de papai é que tenha aflorado em mim o desejo de ser uma profunda conhecedora da arte palavronica.
Eu adorava ouvir o pessoal falando palavrão. Quando íamos à feira nem me ligava muito nas bananas, nos pepinos, nas mandiocas.
Gostava mesmo era de ouvir os feirantes falando “Puta que Pariu”, “Caralho”, “Vai se fuder” e o mais belo de todos: “Buceta”!
Buceta é um palavrão lindo! Você enche a boca para falar e ele parece que incha na boca como que forçando a saída. É um palavrão que preenche qualquer lugar aonde ele é dito.
Um certo dia, durante uma festa de família, derramei o suco que estava no copo em minha frente.
Foi o suficiente para eu falar um belo e sonoro “Buceta”.
Nessa hora todos pararam e ficaram me olhando.
Eu vendo o perigo que estava correndo soltei sem querer um “Puta que pariu, agora fudeu tudo”!
Só me lembro dos meus irmãos indo socorrer mamãe que tinha desmaiado, minhas irmãs chorando e rezando pensando que mamãe havia morrido, minhas tias tampando os ouvidos pensando que eu falaria mais algumas coisa, meus tios rindo da situação, vovô e vovó sem entender nada pois não ouviam direito e papai mandando eu ir para o quarto.
Caralho, nesse momento eu percebi que a palavra tem poder.

Nenhum comentário:

Postar um comentário